quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Milagre não se serve com farinha


2007 foi uma coisa linda, a safra foi tão violenta que o mar não parecia suficiente para tanta tainha. Se duvidar, até em árvore deu tainha.
Era tainha ovada a menos de R$5,00 o quilo, côzalinda de se ver.

Antes disso e de lá pra cá, em 33 anos de vida não me lembro de outro período com tanta bonança peixeira. Pelas minhas consultas, aliás, antes disso só aconteceu quando o magrão cabeludo e de barba saiu por aí mandando multiplicar peixe, pão e vinho. E isso também já faz bastante tempo. Dizem que ele vai voltar e repetir os milagres, mas mesmo que o faça, serão dois milagres em pouco mais de dois mil anos.
Ano passado levamos uma coça da turma da paquita nas finais do catarinense. Sim, talvez você não goste de admitir, mas levamos uma coça. Dois jogos em que aceitamos a imposição adversária e não soubemos fazer valer o peso da nossa bela camisa.

Acontece que hoje, com metade do campeonato varzearinense praticamente findada, a turma da paquita tem se agarrado no evento do ano passado para querer crer que, novamente, conseguirão sair das cinzas para levantar o caneco. Nos chamam de vigias e afins, tentando convencer a si próprios de que aquele milagre improvável acontece com a frequência cotidiana de um prato feito em posto de beira de estrada. Calma, meninas, a coisa não é bem assim, milagres não são servidos com farinha.
O que aconteceu ano passado foi fruto de alguma baderna interna que nunca soubemos exatamente o que sucedeu. Não é possível que um time certinho – embora nenhum primor – tenha se deixado abater do jeito que foram os dois clássicos finais. Deve ter dado alguma merda grande entre Branco-time-diretoria, pois mesmo com as derrotas, uma campanha como aquela seria suficiente para sustentar o técnico no brasileirão, coisa que não ocorreu.

No jogo de despedida do Wilson e do FernanDEZ, conversei com o Chico Lins e tentei sondá-lo a respeito, mas nosso saudoso ex-gerente deu aquela desconversada, sempre muito educado e respeitoso com o local e com aqueles com quem trabalhou, mas no fim das contas foi evasivo.
O Figueirense não é um time que amarela em decisões. Gostamos delas. Somos habituados a elas.

Sim, perdemos a final da Copa do Brasil, mas não por amarelar. Perdemos por que jogamos contra um time que era melhor do que o nosso. Já tínhamos conseguido a façanha de superar o Botafogo nas semifinais, que era sem sombra de dúvidas o melhor time daquela competição.
Amarelada, amarelada clássica mesmo, aconteceu na série B de 2004, quando o Fortaleza mostrou que vantagem não vale nada, e que leão por leão, o do nordeste ruge muito mais alto.

Amarelada, amarelada clássica mesmo, aconteceu no campeonato varzearinense de 2008, quando a turma da paquita vencia a Chapecoense por 2 x 0 em plena Ressacola e, em menos de dez minutos, tomaram uma virada de 3 x 2 com direito a gol de bicicleta de fora da área e tudo.
Escrevo isso por que ontem fiquei com dores no rosto de tanto gargalhar.

Uma onda de euforia tomou conta da Tapera como se tivessem conquistado a Champions League. Tudo por quê? Por que conseguiram empatar com o forte e tradicional Guarani da Palhoça.
E, na tentativa de mascarar o fiasco que tem sido a campanha delas até então, mesmo com as principais contratações do território barriga-verde, se agarram com unhas e dentes no improvável que aconteceu ano passado.

Talvez estejam na esperança de que Sérgio Soares seja defenestrado da Tapera e chamem de volta o Hemerson Maria. Se fizerem isso, será um efeito placebo que não terá o mesmo impacto do ano passado. Será algo parecido com o que fez a nossa torpe diretoria, ao trazer Márcio Goiano para o lugar de Hélio dos Anjos no ano passado. Uma açãozinha sem-vergonha com o intuito de acalmar a torcida, mas cujo resultado prático esperado é apenas ver o tempo passar sem tanta corneta soando nos ouvidos.
Buscar um empate quando se está perdendo por 3 x 0, é quase sempre motivo de comemoração. Quase, e quase não é sempre.

Um dos jogos mais emocionantes que assisti no Scarpelli, foi o heroico 3 x 3 que buscamos contra o Vasco no campeonato brasileiro de 2007, depois de também estarmos perdendo por 3 x 0. No final ainda teve tempo para uma bicicleta do Jean Carlos e um canudo do Peter no travessão, que quase nos garantiu uma virada homérica. Mas, sabemos, aquilo é como a safra da tainha daquele mesmo ano, não acontece todo dia.
E, convenhamos, há uma ligeira – coisa pouca mesmo – diferença entre o Vasco da Gama e o Bugre da Pinheira.

Após duas derrotas consecutivas, sendo uma no clássico e outra em casa, com um jogador a mais durante todo o segundo tempo, o empate de ontem pode servir para duas coisas: encher a turma da paquita de esperança que novos milagres ocorrerão, ou sentir pena da paquita por estar tão isolada no meio daquela perebada mal vestida.
Mas eu sou malandro e quase experiente, já tenho a idade do cara que saiu multiplicando peixes e tal, tenho consciência de que o maior milagre que sou capaz de executar é fazer o salário durar tanto quanto o mês, logo, sei que por mais que eu adore tainha, super-safra é milagre, e milagre não acontece todo dia.

E, admito, vez ou outra sou meio maldosinho, assim sendo, não, não tenho pena da paquita.
Eu si divirto, só isso. 

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