Convenhamos, não é num clássico
que se estreia um goleiro.
Posição delicada, precisa
aglutinar técnica, reflexo, agilidade e frieza, quase sempre exerce alguma
liderança dentro do elenco, e se é a partir daquele cara embaixo das traves que
a torcida se sente ou não confiante para enfrentar um jogo qualquer, imagine
num clássico.
Mas inventaram, sei lá por que
diabos, de estrear um goleiro justo no único clássico de Santa Catarina. Quem
estava sendo jogado na fogueira: o pobre atleta novato ou a torcida que
desconhecia aquele cara, até então terceiro goleiro do clube de onde vinha?
Mas foi assim que determinaram os
deuses do futebol.
Naquela primeira temporada
iniciada no clássico disputado num meio de semana (ah, estas cartadas de mestre
da turminha do Delfim...), o tal goleiro foi crescendo a cada partida. Um
desempenho acima da média, de dar um misto de raiva e inveja nos adversários ,
“onde é que eles foram achar um cara como esse?”, demonstrando tanta técnica e
habilidade, tanta frieza em momentos decisivos, que em poucos jogos no clube
tornou-se um dos principais atores da primeira decisão de um título nacional.
Após a decisão do título nacional, perdida mais pela ansiedade do elenco do que
pela competência adversária, o time fez uma campanha irregular no campeonato
nacional, mas se terminou o ano mantendo-se na elite do futebol nacional, muito
se deveu a ele.
Dizer: “não precisou muito para
que se tornasse um ídolo”, seria injusto de minha parte.
Talvez não precise de muito.
Mas ele FEZ muito! Fez mais do
que se está acostumado a ver um goleiro fazer. Ele fez por respeito, por saber
o tanto que representava para toda uma torcida, e fez questão de jamais
decepcioná-la.
No ano seguinte, paradoxalmente
em uma temporada que ele beirava a perfeição técnica, veio um rebaixamento. Mas
como quem retribui o voto de confiança que lhe foi dado, no dia em que assumiu
a meta do time num clássico, disse não para propostas de outros times, e se
comprometeu a ficar na equipe até que a mesma retornasse ao seu habitat
natural, a série A.
Ficou e, nesta temporada e na
seguinte, ambas na divisão subalterna do campeonato nacional, não só cumpriu
suas atribuições com a maestria exuberante que a torcida já estava acostumada,
como resolveu mostrar talento não só com as mãos, mas também com os pés e,
assim, vieram além das defesas, gols.
Num momento em que já era parte
amalgamada da imagem do clube, sem a possibilidade de imaginá-lo trajando outro
brasão que não o nosso, capitaneou o time no seu retorno à elite do futebol
nacional.
Na sua quinta temporada
defendendo a meta alvinegra, participou ativamente daquela que foi a mais
espetacular campanha que já fizemos. Chances reais de classificação à
Libertadores até a reta final do campeonato, em alguns momentos nos ousamos até
flertar com o título, e ele lá, provando a redenção do sucesso depois dos
infortúnios do descenso.
Veio a sexta temporada a frente
da meta alvinegra, e junto dela a expectativa por uma campanha tão boa quanto
havia sido a anterior, mas, em meio a uma briga administrativa, política e
algumas patacoadas na gestão do futebol, o clube se viu imerso num caminho
desastroso, uma campanha sofrível que culminou num vergonhoso novo
rebaixamento.
Nos parcos momentos de sucesso
que aconteceram naquela temporada, esqueceram-se de congratulá-lo.
Nas inúmeras falhas de todo o
clube, parece que escolheram-no como responsável.
Mesmo assim, nos momentos em que
ouviu críticas de todos os lados, culpando-o por falhas, poderia ter ido aos
microfones e alegar em sua defesa que o time não tivera, desde o início da
temporada em que as tais falhas aconteceram, uma zaga fixa. Vários jogadores
foram testados, nenhum deles foi aprovado. E ele tendo que se virar para dar
suporte para duplas, trios de zagueiros que, não bastasse suas próprias
limitações técnicas, juntos, não conseguiam seguir a mais básica das instruções
de composição de um sistema defensivo. Mas ele ficou lá, firme, assumiu para si
a bronca pela incompetência alheia, incompetência daqueles que deveriam
administrar o clube, suprir o elenco com opções no mínimo satisfatórias, mas
como não o fizeram, ele ficou lá e assumiu. Houve falhas? Ok, foram minhas,
disse ele. Não se eximiu, não procurou desculpas, não se esquivou, apenas
provou que além de técnica, possuía também caráter, hombridade, coisa que se
alguém for procurar no mercado da vida hoje em dia, provavelmente vai ouvir a
balconista responder: “Tem, mas acabou.”.
Ele tem, e de sobra.
E creio que seja exatamente por
isso que não coube nos planos da diretoria que assumiu a gestão do clube. Sua
integridade fez dele um corpo estranho.
Em nenhum momento contestei o
direito daqueles que estão no comando do clube em julgarem se o profissional A
ou B serve para os seus planos, agora, para tudo há uma maneira – no mínimo –
digna de ser feita.
Faltou dignidade, faltou aquilo
que o tal goleiro tem de sobra: caráter e hombridade.
Talvez os torcedores mais novos
não se lembrem, mas na primeira passagem de Adilson Batista pela casamata
alvinegra, ele procedeu uma manobra semelhante. Tínhamos há anos nossa
confiança depositada em Edson Bastos, o primeiro goleiro a ouvir: “Não é mole
não, o meu goleiro voa como um gavião”. Tão logo se encerrou a temerosa
temporada de 2005, Adilson Maluco (como era carinhosamente chamado pela
torcida) dispensou Edson Bastos e apareceu com um terceiro goleiro do Grêmio.
Andrey, depois de um campeonato catarinense ridículo (pode-se dizer sem medo de
cometer injustiças, que fomos campeões estaduais em 2008 POR CAUSA do Wilson,
tanto quanto podemos afirmar que fomos campeões em 2006 APESAR do Andrey),
conseguiu se recuperar e fez um grande campeonato brasileiro. Fez suas malas e
foi embora tão logo a temporada se encerrou.
Adilson quis, naquela oportunidade,
um goleiro escolhido por ele.
Fez o mesmo agora, e não está
errado. Como comandante, está no seu direito.
Mas não é sempre que Maquiavel
acerta, e em alguns casos os fins não justificam os meios. Em alguns casos,
determinados meios são não só desnecessários, quanto danosos.
Se não era do interesse do novo
comando contar com os serviços do Wilson, que rescindissem o contrato
amigavelmente, de tal modo a deixá-lo desimpedido a negociar com outros times.
Sem dúvidas que nos doeria vê-lo trajar outra camisa, mas acho ainda mais
triste ver alguém que sempre nos representou tão bem, ser jogado para escanteio
e perceber que, a cada dia que passa, por não estar jogando, diminuir suas
possibilidades de uma boa nova recolocação.
Triste pelo grande profissional,
e uma estupidez de proporções tsunâmicas por parte da diretoria. Se não o
querem entre os seus colaboradores, que tenham no mínimo a percepção de que
Wilson sempre foi um bom produto. Poderia ser envolvido numa negociação com
outros times, que o deixassem jogar até que um comprador se interessasse por
ele, mas fora da vitrine, escondido no depósito da loja, ninguém vai notar sua
presença e como ele pode cair bem em determinados times.
Wilson é muito mais goleiro do
que a maior parte dos que estão em atividade hoje em dia nos times de série A.
Wilson é mais goleiro do que o Ricardo, mas, afastado, diminui as chances de
uma nova oportunidade para sua carreira, tanto quanto onera o caixa do clube,
que paga o alto salário de um atleta que não está produzindo para o time.
Wilson não significaria apenas um
bom goleiro vestindo nossa camisa 1, significa um ídolo em campo, e ídolos – no
mínimo – levam público aos estádios e vendem camisas. Hoje, se fizerem uma
camisa personalizada do Ricardo, acho pouco provável que tenha vendas
relevantes. Hoje, mesmo afastado, se fizerem uma camisa personalizada do
Wilson, não tenho dúvidas de que terá uma boa vendagem.
Por qualquer ótica que se
observe, o afastamento do Wilson é de uma burrice inominável, uma atrocidade
gerencial, ela é prejudicial para todos os envolvidos. Custa caro aos cofres do
time, e freia a carreira de um cara que sempre cumpriu suas obrigações, nunca
se envolveu em polêmicas, sua conduta extra-campo jamais esteve nas manchetes
da nossa imprensa pequena e tem o carinho da maior torcida de Santa Catarina.
Recomeçar o Figueirense era
necessário e urgente, mas estabelecer um elo entre a reformulação
indispensável, com alguém que – diferente da diretoria – conta com a simpatia e
confiança da torcida, seria o mais básico be-a-bá da gestão esportiva.
Quero o Figueirense forte,
ocupando o seu indiscutível lugar de protagonista máximo do futebol
catarinense, tanto quanto quero esta diretoria longe dos muros que cercam o
belo gramado da Avenida Santa Catarina. Suas ações, desde antes de assumirem
sorrateiramente a direção do clube, são provas mais do que suficientes de que
sua preocupação não é com o bem do time, muito menos da torcida. Seus
interesses são pessoais e políticos, nada além disso. Espero que mudem, que provem
que estou errado na minha avaliação dos seus atos, mas acho pouco provável que
isso aconteça.
Diante de tantas atitudes que me
enchem de vergonha, fico na mais profunda torcida para que nosso ídolo encontre
novos e bons ares para voltar a voar como o gavião que ele aprendeu a ser no
calor da nossa torcida.
Na partida que ele agora disputa
nos tribunais trabalhistas contra o time que o rejeitou, pela primeira vez
torcerei contra o Figueirense. Esse jogo não merecemos ganhar.
Wilson, môquirido, sucesso, boa
sorte e mil desculpas, você não merecia passar por isso.
Ah, ia quase me esquecendo.
Não falei como terminou o
clássico em que o tal goleiro estreou, né?
Então, a partida foi tão fácil,
mas tão fácil, que sequer serviu de teste. Testado mesmo ele foi depois, várias
vezes, e sempre passou com louvor.
Os alvinegros talvez não lembrem,
pois placares como esse sempre foram muito comuns a nosso favor. Mas, já o povo
doladelá, eles com certeza não esquecem daquela bela noite de quarta-feira. Por via das dúvidas, fica aí o videozinho para refrescar a memória.
Saudações alvinegras!
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